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A pandemia trazida pela virtualidade

Por : Elias Forero Illera
Internista reumatólogo. Rheumatologist internist. Internista reumatologista



19 Novembro, 2020

https://doi.org/10.46856/grp.22.e012

"O verdadeiro início de um novo século, de uma nova era, não se produz pela simples e inevitável mudança de data no calendário. Com a perspectiva do tempo, são fixados os acontecimentos ocorridos ao longo do caminho percorrido pela humanidade, estes servirão para identificar o verdadeiro início e fim das etapas da nossa história. "

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Sem dúvida, a pandemia produzida pelo COVID-19 e as suas consequências constituem o marco do verdadeiro fechamento do século XX e o início operacional do século XXI. Uma consequência desta pandemia, também transformada em um acontecimento modificador da história, é o advento forçado da virtualidade.

É claro que alguém tinha que apoiar as atividades econômicas e sociais maltratadas que as medidas de contenção do avanço do vírus os obrigaram a tomar. A comunicação com os meios tecnológicos entrou de forma plena, sem estar totalmente preparada: na educação, na saúde, no comércio, em praticamente todas as atividades sociais. A sua penetração é de tal magnitude que em uma recente entrevista a ministra da Educação da Colômbia, Maria Victoria Ângulo, destacou: “a virtualidade veio para ficar”.  

Na saúde, os fatos também confirmam à ministra colombiana. Os maiores eventos acadêmicos da medicina mundial e regional ocorrem com a ajuda da virtualidade. Os números apresentados pelos organizadores indicam que o sucesso acompanha a nova realidade da comunicação global.

A consulta médica diária e bastante tradicional também é impactada, segundo dados da Associação Colombiana de Empresas de Medicina Integral (ACEMI), desde março, foram realizadas cerca de 9,5 milhões de teleconsultas. Pesquisas realizadas no Brasil revelam que tanto médicos quanto pacientes gostam do uso da comunicação virtual na consulta. A virtualidade na saúde também veio para ficar. 

Porém, diante deste fato que parece inexorável, devo expressar as minhas objeções a esta nova realidade antes de esquecer como era a vida quando o COVID-19 e a comunicação pelo computador eram apenas parte dos filmes ou das aventuras do Capitão Kirk e do Sr. Spock. 

É prudente deixar bem claro que não sou contra pressupor desenvolvimentos tecnológicos. Bem-vindo a qualquer produto avançado de uma tecnologia que respeite os tempos do processo. O problema é que a temida pandemia precipitou as coisas.

A situação do confinamento e a necessidade de manutenção do cotidiano levaram à adoção de uma virtualidade ainda grosseira. Uma técnica adotada à pressa perde no seu desenvolvimento um aspecto fundamental, a gradação, aquilo que permite lapidar os defeitos, identificar os erros, afinar os tempos, enfim, aquele que dá o acabamento perfeito. 

A virtualidade assumida na hora, sem saber como ou onde, grande parte das atividades de uma sociedade da virada do século, aniversários, shows, casamentos, funerais, conferências, aulas, consultas médicas, tudo foi transferido para plataformas digitais sem discriminação; sem ter resolvido previamente aspectos tão elementares como a disponibilidade de equipamentos adequados ou capacidade de banda longa ou repentinamente tão banais como o rótulo.

Na América Latina, um percentual apreciável da população ainda não possui os elementos tecnológicos ou de comunicação necessários para receber aulas ou consultas virtuais; pior ainda, tendo-os, eles não sabem como usá-los.

O tempo das pessoas e famílias também não é levado em consideração; supõe-se, erroneamente, que estando confinado e com algum elemento tecnológico disponível, é fácil programar atividades em horários que sem virtualidade e confinamento seriam totalmente impossíveis. Estar em casa com um computador à mão não significa que temos o tempo todo disponível para atender às necessidades eletrônicas. Ter um telefone celular com boa conectividade não autoriza uma teleconsulta médica de ônibus ou durante a realização de um procedimento bancário.

Atividades não digitais como exercícios, boa leitura, relacionamento familiar, descanso e muitas outras também requerem tempo para serem realizadas e devem ser respeitadas. O equilíbrio é importante e necessário, a virtualidade na vida é um progresso esperado, mas a tecnologia para ter uma “vida virtual” seria a pior consequência desta pandemia.

 

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