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O impacto da covid-19 em pacientes com doenças autoimunes

Por : Estefanía Fajardo
Periodista científica de Global Rheumatology by PANLAR.



10 Agosto, 2022

https://doi.org/10.46856/grp.27.ept131

"É mais frequente o covid em pacientes com doenças autoimunes? É mais ou menos grave nesses pacientes? É mais ou menos mortal? Perguntas que buscam uma resposta através destas investigações e análises apresentadas no congresso."

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O impacto da covid-19 em pacientes com doenças autoimunes

Estefanía Fajardo

 

O Congresso PANLAR 2022 que acontecerá em Miami de 10 a 13 de agosto contará com uma variedade de temas, abordagens, pesquisas e trabalhos que permitirão, presencialmente, debater e aprender.

Foi precisamente a pandemia do covid-19 que impediu durante dois anos o atendimento presencial, e é sobre esta doença que também têm sido realizadas diferentes análises, muitas delas desde as doenças autoimunes, que serão apresentadas neste congresso. São 34 trabalhos relacionados à covid-19 e a sua vacinação que terão o espaço para divulgar as análises e conclusões dos diferentes países e perspectivas.

As abordagens também revisam as patologias secundárias, assim como o covid prolongado e os efeitos nos pacientes. É mais frequente o covid em pacientes com doenças autoimunes? É mais ou menos grave nesses pacientes? É mais ou menos mortal? Perguntas que buscam uma resposta através destas investigações e análises apresentadas no congresso.

 

POR PAÍS

Diferentes grupos de pesquisadores apresentaram análises dos seus países, e até de dois destes, para a radiologia dos efeitos do covid-19 nos pacientes, como também no desenvolvimento das suas doenças, ou nos próprios sistemas de saúde da nossa região. A conclusão comum destas análises é que, embora haja um medo no desenvolvimento do vírus SARS-CoV-2, os riscos na população com doenças reumáticas não são notavelmente maiores em comparação com o restante, da mesma forma acontece com a hospitalização e desenvolvimento grave da doença.

-Argentina (ABS-1189): Um dos trabalhos apresenta as diferenças entre a primeira e a segunda onda de infecção por Sars-CoV-2 em pacientes com doenças inflamatórias na Argentina por meio de um registro nacional, multicêntrico, longitudinal e observacional.

Após a análise, foi possível concluir que durante a segunda onda da covid-19, observou-se uma diminuição na taxa de internação geral e na UTI entre os pacientes com doenças imunomediadas/autoinflamatórias, provavelmente em decorrência da vacinação e da melhoria dos tratamentos.

-México e Argentina (ABS-1546, ABS-1452): Um dos estudos avaliou os fatores associados à mortalidade por covid-19 em pacientes com doenças inflamatórias reumáticas imunomediadas no México e na Argentina, misturando dados dos registros de ambos os países , CMR-COVID do México e SAR-COVID da Argentina para um registro total de 3.181 pacientes.

As conclusões estabelecem que a mortalidade em pacientes com IMIDs e covid-19 nos registros CMR-COVID e SAR-COVID foi de 5,7%, particularmente maior em pacientes mexicanos. Os fatores associados à mortalidade nas doenças imunomediadas/autoinflamatórias e covid-19 foram aqueles descritos na população geral como a idade avançada e as comorbidades; e fatores específicos da patologia, como a doença de atividade moderada/alta, o uso de corticoides e o tratamento com inibidores de CD20. Reiterando, ainda, a importância do controle e tratamento adequado da doença.

Outro trabalho teve como objetivo avaliar e comparar o curso clínico, gravidade e complicações da infecção por SARS-CoV-2 em pacientes com doenças inflamatórias reumáticas imunomediadas no México e na Argentina, o que resultou na presença de sintomas na maioria dos pacientes, dos quais um quarto foi hospitalizado e 6 % morreram pelo covid-19. Os mexicanos apresentaram uma doença mais graves e, depois de contabilizar os fatores de risco, tiveram duas vezes mais chances de morrer.

-Chile (ABS-1172): O objetivo do trabalho apresentado é evidenciar as características clínicas de pacientes chilenos com doenças reumáticas e covid-19 relatados na plataforma de registro médico da Global Rheumatology Alliance. 54 pacientes foram incluídos nesta análise.

Dentro das conclusões, analisou-se que a maioria dos pacientes reumáticos chilenos incluídos foram hospitalizados com uma baixa taxa de mortalidade, embora houvesse uma alta porcentagem de pacientes que necessitaram pelo menos de ventilação mecânica não invasiva. Não foi relatado o agravamento de artralgias ou ativação de doença reumática.

 -México (ABS-1587): Este estudo investigou os alelos HLA de classe I e II associados à gravidade do covid-19 em Tapachula, Chiapas, e os classificou de acordo com o desfecho e a gravidade da infecção com um grupo controle.

A conclusão indica que o genoma indígena existente no México é capaz de fornecer alguma proteção contra o covid-19, assim como o gene africano protege contra a infecção, o que sugere focar a proteção nas populações que não possuem esses genes devido ao aumento da morbidade e mortalidade.

-El Salvador (ABS-1294): Este estudo teve como objetivo determinar a frequência de infecção por covid-19 entre pacientes reumáticos atendidos no Serviço de Reumatologia do Instituto Salvadorenho de Previdência Social durante o ano 2020-2021, bem como descrever algumas características epidemiológicas relacionadas às comorbidades e ao nível de atividade da sua doença reumática.

-República Dominicana (ABS-1554): Este estudo encontrou maior positividade de anticorpos nos pacientes com MTX, seguido por HCQ e ADA. Apesar do uso de medicamentos imunossupressores, todos os pacientes que realizaram a dosagem de anticorpos após a infecção por covid-19 apresentaram imunidade. A infecção pelo Covid-19 foi mais frequente nos pacientes com artrite reumatoide, sendo a doença reumática inflamatória mais prevalente na população estudada.

Neste estudo, verificou-se que a maioria dos pacientes estava em remissão das suas doenças no momento da infecção, estando em terapia imunossupressora e na maioria dos casos não foi necessária internação.

 

TRABALHOS DE INTERESSE

Pesquisadores do Brasil também apresentaram 'Covid-19 e doenças autoimunes: Série de casos', (ABS-1287) com cinco casos de pacientes que, concomitantemente ou em até 60 dias após a infecção por covid-19, desenvolveram sintomas ou sinais que levaram posteriormente ao diagnóstico das doenças autoimunes por meio da revisão dos prontuários médicos.

Durante a pandemia do covid-19, observou-se que, entre os pacientes que evoluem gravemente, há uma fase caracterizada pela hiperreatividade do sistema imunológico. A infecção por SARS-CoV-2 pode funcionar como um fator desencadeante para o aparecimento de condições autoimunes, como apontaram pesquisas anteriores. Esta pesquisa se soma a alguns outros relatórios que identificaram uma associação temporal entre o covid-19 e as doenças autoimunes.

Outro dos trabalhos relacionados é 'A influência de 2 anos da pandemia de covid-19 na força muscular e desempenho físico em pacientes com esclerose sistêmica (ES): um estudo de coorte'. (ABS-1404)

Este estudo busca avaliar a inclusão da pandemia na força muscular e desempenho físico de pacientes com ES e verificar as associações de força muscular e desempenho físico com marcadores inflamatórios em um estudo de coorte de 40 pacientes.

A conclusão indica que, apesar da pandemia do covid-19 e das restrições impostas, não foi detectado desgaste na força muscular ou no desempenho físico nesta população de pacientes com ES. Alguns destes parâmetros de força muscular e desempenho físico foram associados ao marcador inflamatório PCR. Mais pesquisas são necessárias para avaliar o impacto real e possíveis associações.

Existem também análises realizadas em hospitais com relação aos fatores associados à mortalidade em pacientes reumáticos infectados com covid-19 (ABS-1615). Os fatores que apresentaram associação bivariada significativa com a mortalidade destes pacientes foram sexo feminino, escolaridade, baixo nível sociocultural e tempo de internação prolongado.

Por outro lado, é a artrite psoriática (APs) um fator de risco para infecção grave por covid-19? (ABS-1258) Com dados do registro argentino SAR-COVID, foi realizado um estudo transversal que incluiu pacientes com AP e AR, que tiveram infecção por SARS-CoV-2 (129 pacientes com AP e 808 com AR).

Apesar dos pacientes com AP apresentarem maior frequência de comorbidades cardiovasculares e metabólicas do que aqueles com AR, não foram observadas diferenças quanto à gravidade do covid-19. A maioria dos pacientes apresentava uma doença leve com baixa taxa de mortalidade.

Um destes trabalhos (ABS-1333) indica que as manifestações extrapulmonares decorrentes do covid-19 são frequentes, e alguns sintomas e sinais desta doença podem estar presentes em pacientes com doenças reumáticas. Por isso, propõe-se a discussão das manifestações comuns entre o covid-19 e as doenças autoimunes.

Isto é realizado mediante a análise de dois casos de pacientes com doença autoimune diagnosticados com covid-19. Dentro das conclusões indicam-se que as manifestações extrapulmonares do covid-19 foram relatadas em quase todos os sistemas. Algumas manifestações neurológicas incluem encefalopatia, mialgias e ageusia. As manifestações renais incluem lesão renal aguda, proteinúria e hematúria. A trombose venosa profunda e a embolia pulmonar também foram relatadas em associação com infecção por SARS-CoV-2. Estes mesmos sinais e sintomas podem aparecer também em pacientes com doenças autoimunes, especificamente LES.

Ambas as doenças podem apresentar-se como sintomas inespecíficos e sobrepostos. Portanto, é de extrema importância considerar ambas ao avaliar pacientes na nossa prática diária, a fim de garantir um diagnóstico e tratamento adequados para pacientes que vivem com doenças reumáticas.

A Síndrome Inflamatória Multissistêmica do Adulto tem sido fundamental na pandemia e é ponto de partida para o 'Quando o intensivista encontra o reumatologista' (ABS-1379)

Levando em consideração que a síndrome inflamatória multissistêmica é uma complicação rara da infecção por covid-19 em adultos; 70% dos casos aparecem como um fenômeno pós-infeccioso com baixa taxa de mortalidade, apesar da gravidade das manifestações extrapulmonares. Foram revisados ​​os prontuários de dois pacientes diagnosticados em dois centros terciários de Medellín, Colômbia.

A expressão clínica da síndrome é heterogênea, variando de manifestações leves, apesar da intensidade do processo inflamatório, a manifestações graves, incluindo miocardite. Os glicocorticóides sistêmicos em altas doses são a terapia de escolha, alcançando uma resposta rápida do sistema comprometido.

Outro artigo (ABS-1597) sinaliza que, na medida que a pandemia de covid-19 se desenvolve, várias complicações hematológicas, incluindo a púrpura trombocitopênica imune (PTI), foram relatadas em vários estudos com incidência variável.

Um dos pôsteres (ABS-1599) compara as alterações nos exames laboratoriais de pré-natal e ultrassonografia por trimestre, como também a detecção de ansiedade e depressão devido à pandemia em gestantes com LRA após análise de 68 pacientes. Neste, os pesquisadores demonstraram maior frequência de positividade para a ansiedade, estado e traço em gestantes com LRA recrutadas durante a pandemia, bem como uma maior frequência de depressão e ideação suicida, porém, deixando claro que esse aumento não foi estatisticamente significativo. Por outro lado, indicaram que a preocupação com a pandemia e o estado de saúde poderiam influenciar positivamente na melhor adesão ao seguimento e exames de rotina durante a gravidez.

 

DROGAS E COVID PROLONGADO

A análise dos medicamentos e dos seus fatores associados ao desenvolvimento da covid-19 nos doentes foi um elemento importante a ter em conta. Uma dessas análises (ABS-1265) avaliou se os glicocorticoides, rituximabe e doença pulmonar intersticial estão associados a desfechos desfavoráveis ​​da infecção por SARS-CoV-2 em pacientes com artrite reumatoide.

Neste, foram incluídos 801 pacientes e as conclusões indicam que o tratamento com RTX e GC, a idade avançada, a diabetes e a doença pulmonar intersticial estão associados aos maus resultados do covid-19. Além disso, pacientes mais velhos e em uso de GC apresentaram uma maior mortalidade.

Ainda dentro dos artigos selecionados, é apresentada uma análise da correlação entre infecção por SARS-CoV-2 e doenças autoimunes sistêmicas (ABS-1440) com o objetivo de avaliar a proporção de pacientes com doenças reumáticas autoimunes que são internados na UTI ou falecem no Hospital Universitário de Navarra, Pamplona, ​​Espanha.

Nesta coorte, 18 pacientes necessitaram de internação hospitalar, dos quais 16,7% chegaram à UTI. Entre os pacientes internados, 72,2% eram obesos e 50% hipertensos. Dois pacientes morreram de SARS-CoV-2, um deles com artrite reumatoide e o outro com espondiloartrite. Adicionalmente, foi estabelecido que os grupos mais afetados foram de fato a artrite reumatoide e a espondiloartrite, tanto na infecção por SARS-CoV-2 quanto nas internações.

Além da comparação por sexo (ABS-1445), o resultado nesta coorte foi que 18 pacientes necessitaram de internação, sendo 66,6% mulheres.

Ou seja, nesta coorte, 16,6% necessitaram de internação em UTI, sendo 66% mulheres. Dois pacientes morreram de SARS-CoV-2, um com artrite reumatoide e o outro espondiloartrite, e 50% desse número eram mulheres.

Também foi estabelecido que os grupos mais afetados foram a artrite reumatoide e as espondiloartrites, tanto em termos de infecção por SARS-CoV-2 quanto de internações, sendo observado maior número de reinfecções em mulheres. Por fim, entre os pacientes internados, 72,2% eram obesos e 50% hipertensos.

Além disso, foi apresentada a prevalência de covid prolongada em pacientes reumáticos (ABS-1474). Nesta investigação, foram incluídos 1.915 pacientes com idade média de 51 anos e o resultado foi de 12%. A etnia não caucasiana, o ensino superior, o tratamento com ciclofosfamida, os sintomas de COVID-19, a doença grave e uma maior permanência na UTI foram relacionados a isso.

Lembre-se que o cronograma completo de atividades, com o detalhamento de todas as sessões do dia a dia, pode ser consultado aqui. Além disso, poderá consultar todos os trabalhos apresentados no livro de resumos do congresso (1)

 

REFERÊNCIAS

  1. JCR: Journal of Clinical Rheumatology: July 2022 - Volume 28 - Issue S1 - p S1-S95 . Disponível em https://journals.lww.com/jclinrheum/Citation/2022/07001/PANLAR_Abstracts_2022.1.aspx
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